SIM. OS ISRAELENSES JOGAM FUTEBOL!
quarta-feira, outubro 26, 2005
  Dia de aula na Terra Santa

Extenuado, o camisa 10 rapidamente atinge as escadas que levam ao vestiário.
Atravessa o túnel, abre a porta e senta-se no primeiro banco de madeira. O jogo, lá em cima, já está decidido. Seu time vence por 3 a 1 com certa facilidade.
No vestiário, uma infinidade de repórteres o cercam.
Ele comenta com o tradutor que precisa de um banho, e que mais tarde atenderá os jornalistas com todo o prazer. Como sempre.
O rei quer um pouco de privacidade.

Em junho de 1961, o super-time do Santos desembarcava em Tel-Aviv. Por 60 mil liras (o equivalente a 2 milhões de dólares na época), o amistoso da equipe comandada por Pelé seria realizado no dia 11, em Ramat-Gan, contra um combinado do Macabi Tel-Aviv e Hapoel Petach-Tikva, os dois melhores times israelenses da época.
O Santos vinha de uma maratona de jogos.
Poucos dias antes, enfretara o Basel, na Suíça. Foram 7 gols santistas, contra apenas dois suíços.

Trinta e cinco mil pessoas lotaram o estádio em Ramat Gan para ver Pelé e o esquadrão do Santos. Afinal, a lendária equipe do litoral paulista, antes mesmo dos dois títulos mundiais que a consagrariam (em 1962 e 1963), já havia espalhado fama pelos cinco continentes.
O menino Pelé, um dos heróis da Copa de 58, prepara-ve para novo round no ano seguinte, em 1962, no Chile. A segunda Copa de Pelé (que é uma outra história).
Do outro lado, um dos destaques era o atacante Zaharia Ratzabi, 27 anos e líder do consagrado Hapoel Petach-Tikva.
Abaixo, Zacharia (à esquerda) e o rei.



O combinado israelense começou melhor.
Mas logo aos 10 minutos, Coutinho recebeu lançamento perfeito dentro da grande área e fuzilou. Um tiro. O goleiro Yaacov Visoker nem se mexeu e o Santos abria o marcador.
Apenas mais sete minutos foram necessários para que Pelé comemorasse seu gol. Ele subiu mais alto que Goldstein, ainda na intermediária, livrou-se do zagueiro e disparou. De longe. Um chute de 25 metros que venceu facilmente o goleiro Visoker.
No fim do primeiro tempo. Pelé e Durval tabelaram pela direita e entraram como quiseram na área israelense. O último a tocar foi Durval, levando 3 a 0 para o vestiário.
Abaixo, Pelé disputa bola com o lateral do Maccabi Tel-Aviv, Shaul Matania.



O "Cabeça de Ouro" Nahum Stelamach, logo nos primeiros minutos do segundo tempo, cabeceou e diminui a vantagem dos brasileiros. 3 a 1.
Até que, aos 25 minutos, Pelé foi substituído. E desceu aos vestiários. E foi abordado por dezenas de repórteres. E queria um pouco de privacidade.

Mais tarde, Pelé deu entrevista ao já falecido jornalista Aleksander Aleksanderoni.

"Por que você foi substituído?"
Pelé sorriu. "É preciso dar a todos a oportunidade de ver o público israelense".
Perguntado sobre o que achou da equipe israelense, Pelé foi político (como sempre). Disse não esperar, sinceramente, encontrar uma boa equipe desse lado do mundo. Elogiou o centroavante Nahum Stelmach, autor do gol, e afirmou que ele poderia jogar em qualquer equipe européia.

"Que conselho você daria para essa equipe e que poderia ser estendido ao futebol israelense?"
Pelé deu mais que uma resposta. Deu aula.
"Os israelenses seguram demais a bola. É preciso tocar, lançar, chutar. Vencemos hoje porque fizemos tudo isso. Não foi brilhante, mas vencemos."
Mal sabe o rei que o futebol israelense ainda sofre desse mesmo mal, até hoje...

Apesar da vitória, os jornais não ficaram muito satisfeitos com a atuação de Pelé.
"Ele poderia ter dado mais", sugeriu o "Chadashot HaSport" da época, que mesmo assim encheu o rei de elogios.
"Resumindo, Pelé tem tudo. Ele é completo. Mas ele não esteve como gostaríamos de ver. Foi uma pequena decepção", escreveu o jornalista Yehuda Gavai.
O que os israelenses queriam afinal de contas?

Eis as duas equipes que se enfrentaram naquela tarde:

Combinado Macabbi Tel-Aviv / Hapoel Petach Tikva: Visoker (Sartinasky). Yafet,
Palshel, Goldstein, Shaul Matania, Yehuda Reviuv. Shlomo Nahari (Boaz Koffman),
Nahum Stelmach, Glazer, Avshalom Ratzabi, Zaharia Ratzabi.

Santos: Lourenço (Lela). Mauro, Dalmo, Getúlio, Bernardo, Lima.
Dorval (Sormani), Mengálvio (Tite). Coutinho, Pelé ((Pagão), Pepe.


"Se Grant (técnico de Israel) tivesse hoje um atacante como Ratzabi, teríamos ido à Copa."

A frase foi manchete do jornal Yediot Acharonot, no início do mês de Outubro.
Há pouco mais de duas semanas, uma multidão foi despedir-se de Zaharia Ratzabi.
Aos 71 anos, ex-atacante do Hapoel Petach Tikva e vencedor de 5 títulos nacionais deu adeus à esse mundo.
Ratzabi era do tipo calado. Reservado, tímido. Seu negócio era jogar futebol, desde moleque, ainda na época do Mandato Britânico. Foi artilheiro da temporada 62/63 com 12 gols.
Pela seleção, marcou apenas uma vez, em 11 jogos. Pela liga, foram 106 gols em 229 partidas.



Sua morte causou comoção e, ao mesmo tempo, boas histórias vieram à tona.
A melhor delas retrata o momento em que Ratzabi fez greve por não receber uma geladeira prometida pelos dirigentes. Seus colegas acharam a história um exagero, e passaram a chamá-lo de "Fridgider".
Ratzabi não gostou.
Os companheiros Stelmach e Koffman acabaram pressionando a diretoria e Ratzabi recebeu seu refrigerador, novinho em folha...

Para assistir ao vídeo de despedida de Ratzabi (Canal Sport 5, em hebraico), clique aqui!
 
sexta-feira, outubro 21, 2005
  O Título

Faltava apenas uma partida.
Era a chance que Israel tinha de deixar para trás os dois vice-campeonatos frustrantes e, pela primeira vez na história, abocanhar um título. Os sul-coreanos queriam manter a escrita e levar o tri-campeonato.
Estádio Ramat-Gam lotado. Três de Junho de 1964.
Quando o árbitro iraniano Davoud Nassiri entra no gramado com a bola debaixo do braço, 35 mil israelenses não tinham dúvida de que, se não fosse naquele dia, não seria nunca mais. O título da Copa das Nações Asiáticas era o que importava.

De quatro em quatro anos, as melhores seleções do continente asiático se enfrentam num país-sede, em busca do troféu. O atual bicampeão, o Japão, juntamente com Irã e Arábia Saudita, são os maiores campeões do torneio: são três conquistas para cada um.
Mas o que Israel tem a ver com tudo isso?

De 1956 a 1974, a seleção israelense foi membro da Confederação Asiática de Futebol. Participou de quatro Copas Asiáticas: desde a primera, em 1956, até 1968. E não fez feio.

Nos primeiros 15 dias de Setembro de 1956, em Hong Kong, realizou-se a primeira Copa das Nações Asiáticas. Depois de uma rodada classificatória, a fase final do torneio contou com quatro seleções: Hong Kong, Coréia do Sul, Vietnã e Israel.
O título foi decidido num quadrangular simples.
Israel viu o título ficar distante depois da derrota para a Coréia por 2 a 1, mas venceu seus dois outros jogos e garantiu o vice-campeonato.

Quatro anos depois, de 14 a 21 de Outubro de 1960, foi a vez da Coréia sediar o torneio.
Na fase classificatória, Israel venceu seu grupo (que tinha Irã, Paquistão e Índia) e foi mais uma vez ao quadrangular final. As mesmas duas vitórias (contra o Vietnã e Taiwan) e uma derrota por 3 a 0 para Coréia foram o suficiente para, pela segunda vez, Israel conquistar o vice-campeonato.

Eis que chega o ano de 1964.
A seleção da Coréia do Sul, que disputava vaga para os Jogos Olímpicos, mandou uma equipe reserva à Israel, sede do torneio. Índia e Hong Kong completaram o quadrangular final.
Foram escolhidas quatro sedes para o torneio: Haifa, Jerusalem, Yaffo e Ramat Gan.
Na primeira partida, realizada em Ramat Gan, Israel suou para vencer Hong Kong pelo placar mínimo. Um gol do garoto Mordechai Spiegler, 19 anos, aos 31 do segundo tempo levou a seleção do técnico Gyula Mandi á liderança do grupo.
No segundo jogo, em Yaffo, 20 mil pessoas vibraram com os 2 a 0 aparentemente tranquilos que Israel aplicou sobre a seleção da Ìndia.
Spiegler (de pênalti) e Yohai Aharoni marcaram.



Até que veio a Coréia do Sul, carrasco das duas primeiras edições.
Israel fez, o que muitos dizem, o melhor "primeiro tempo" de sua história. Aos 20 minutos, Leon Moshe abriu o placar. Aos 37, o zagueiro Gidon Tish ampliou. A primeira etapa poderia ter acabado com uma vantagem israelense ainda maior, se não fosse o esquema de jogo dos coreanos: uma bem montada retranca.
No segundo tempo, os coreanos melhoraram. O atacante Li diminui aos 34, e veio a pressão.
Porém, o título estava bem próximo.



Até que o árbitro encerrou a partida. Israel campeão!!!
Eis a seleção campeã da Copa das Nações Asiáticas:

Haim Levin - David Primo, Yehezkel Katsav, Gidon Tish, Moshe Leon -
Shlomo Levi, Haim Bahar, Mordechai Spiegler -
Yohai Aharoni, Nahum Stelmach, Reuven Young.



O jovem Spiegler praticamente debutava pela seleção israelense.
Tornou-se, mais tarde, o maior artilheiro da história da equipe nacional. Foram 32 gols em 83 jornadas com a camisa da seleção. Foi eleito há poucos anos o melhor jogador história do futebol israelense!

Spiegler nasceu na Rússia em 1944, chegando em Israel aos 5 anos de idade, um depois da Independência. Cresceu na cidade costeira de Natanya, logo despontando como o maior craque da história do Maccabi local. Foi artilheiro do campeonato israelense de 1966 e 1970 e, dois anos mais tarde, tornou-se um dos primeiros israelenses a ser contratado por um time europeu.
Foi jogar no Paris Saint-German.
Um ano depois, realizou o maior sonho de qualquer jogador de futebol. Atuando pelo Cosmos de Nova York, foi companheiro de equipe de um negro alto, forte, habilidoso. Foi companheiro do melhor. Do rei. De Pelé.



Nos próximos posts, mais sobre a brilhante carreira de Spiegler, que não acaba por aqui.
Spigler faria ainda muito mais pelo futebol israelense, liderando a seleção em sua primeira e única Copa do Mundo. Aguardem.

ps: Ontem, o Maccabi Petach Tikva estreou com derrota na fase de grupos da Copa da UEFA.
Jogando em casa, foi derrotado pelo Palermo, da Itália, por 2 a 1. Merecido.

Assisti à partida e, convenhamos, o Maccabi esteve bem abaixo do que vinha produzindo nas últimas partidas. Fora o gol "achado" de Omer Golan no final do primeiro tempo (que levou o empate ao vestiário), o time de Petach Tikva quase nada produziu.
O jogo estava tão morno que a televisão israelense, em alguns momentos, prefiria mostrar, na arquibancada, a esposa do treinador do Maccabi.
Uma bela loira, sejamos francos.
Abaixo, a derrota do Maccabi Petach Tikva.


 
terça-feira, outubro 18, 2005
  Outras batalhas

De particularidades, Israel está cheia.
Na política, na sociedade, nas relações internacionais. E também no esporte.
A rivalidade entre clubes de futebol também está impregnada de política e, consequentemente, de ignorância e intolerância.
Por incrível que pareça, existem "times de esquerda", "times de direita", "times árabes"...

O grande clássico do país, o que causava maior furor nas torcidas e mobilizava maior contingente policial, era disputado entre o Beitar Yerushalaim (repletos de torcedores de extrema-direita) e o Hapoel Tel-Aviv, de camiseta vermelha e bandeiras do Che Guevara na arquibancada.
Disse "causava" porque, hoje em dia, um outro confronto tem mexido ainda mais com o futebol israelense. Ou pelo menos com os nervos dos torcedores. Onde, literalmente, "o pau quebra".
Como na foto abaixo, de um torcedor do Beitar.



Em Maio de 2004, o Hapoel Bnei Sakhnin ficou conhecido em todo o mundo como a primeira equipe de uma cidade árabe a vencer a Copa de Israel (uma vitória de 4 a 1 sobre o Hapoel Haifa). No ano seguinte, participou da Copa da UEFA representando o país. Foi eliminado na segunda fase, pelo Newcastle da Inglaterra.
A notícia do título foi publicada na Jordânia, no Egito e também pela Al-Jazeera. O primeiro-ministro Ariel Sharon chegou a prometer 7 milhões de shkalim (cerca de 1,5 milhões de dólares) para a construção de um novo estádio em Sakhin.

Não demorou para que todo confronto entre o Sakhnin e os loucos torcedores do Beitar Yerushalaim terminasse em pancadaria.
E a falta de vergonha também adentrou os jornais.
O Yediot Acharonot chegou a publicar, logo depois do título do Sakhnin, um artigo de um torcedor dizendo que o futebol israelense estava, a partir daquele momento, morto. Após uma derrota do Beitar para o Sakhnin, no ano passado, um dos chefes da torcida do time direitista reclamava por sua equipe ter perdido para a Al-Qaeda!

O craque do Sakhnin (que foi sondado, no início da temporada, pelo Maccabi Haifa) é o meia Abbas Suan, um árabe nascido na Galiléia que também frequenta a seleção israelense.
Poucos dias depois de uma partida contra a Irlanda, que Israel empatou aos 45 do segundo tempo (com gol de Suan), o jogador foi vaiado pela torcida do Beitar num jogo válido pelo campeonato israelense. Os extremistas abriram um cartaz no qual se lia: "Suan, você não nos representa".
Já a torcida do Bnei Sakhnin revidou, gritando "lixo, lixo" enquanto os alto-falantes tocavam o hino nacional "Hatikva".
Abaixo, o capitão Suan levanta a taça, em 2004.



No dia 8 de janeiro de 2005, o Bnei-Sakhnin visitou o time de Jerusalém e enfiu um sonoro 2 a 0.
Ao lado do estádio Teddy Kolek, funciona o maior shopping center da cidade, o Malcha ("Málrra"). Após a partida, torcedores dos dois times se enfrentaram no estacionamento do Malcha. Alguns chegaram a entrar no shopping, assustando centenas de pessoas comuns que passeavam na noite de sábado.
Vários torcedores foram presos, outros feridos.

Apesar do comportamento violento de parte da torcida do Sakhnin, a administração do clube é um exemplo para todo o "planeta bola".
O presidente é muçulmano, o técnico é judeu, os jogadores são árabes, judeus e cristãos. Estava na segunda divisão até três anos atrás e ninguém fora do vilarejo árabe o conhecia.
Em Sakhnin, 30% da população está desempregada e fica perambulando, sem muito que fazer além de passear no centro e ver os treinamentos da equipe local, num gramado improvisado.
Eles respiram futebol.
Abaixo, a torcida do Sakhnin.



No último final de semana, o clássico se repetiu em Jerusalém.
O time árabe é o último colocado do campeonato, sem nenhum ponto. O de Jerusalém, está em crise e sem treinador. O antigo, o ex-jogador Eli Ohana, abandonou o clube há um mês, depois que um bilionário russo assumiu o controle do Beitar.

Provocações dos dois lados, policiamento reforçado.
O Bnei Sakhnin chegou a estar na frente do placar por duas vezes. Na primeira delas, por causa de uma bola que bizonhamente encobriu o goleiro Korenfein, do Beitar.
Aos 48 do segundo tempo, o jogo estava empatado. Um 2 a 2 até certo ponto merecido, porque nenhum equipe havia feito nada demais. Até que um reserva do Beitar aproveitou uma sobra e, de voleio, marcou o gol da vitória. Amit Ben Shoshan saiu como herói de mais um "batalha" esportiva.
Ou que, pelo menos, deveria ser somente esportiva.


 
quarta-feira, outubro 12, 2005
  Começa a lavanderia

Nunca é muito saudável dizer que uma "bomba" explodiu por aqui. Até mesmo quando o assunto é futebol.
Mas ela explodiu.
Nem bem a França jogou (e venceu) o Chipre, eliminando a seleção israelense (na verdade o jogo acontece hoje), já começaram a lavação de roupa suja. O que estava mil maravilhas para uns, para outros chegou no limite.

O estopim foi um artigo assinado pelo atacante Pini Balili, reserva da seleção israelense, publicado ontem pleo jornal Yediot Acharonot.
Nele, Balili critica ferozmente o técnico Avraham Grant, colocando-se publicamente contra à continuação de Grant no comando da equipe. É bom lembrar que, há poucos dias, os dois grandes nomes da seleção (Benayoun e Nimni) já manifestaram-se à favor da permanência de Grant como técnico de Israel.
Agora, o caldo entornou (abaixo, Balili disputando uma bola contra o lateral francês Thuram).



Dentre outras declarações apimentadas, Balili acusa o técnico Grant de ser um manipulador, de "sorrir pela frente e apunhalar por trás".
Ele afirmou que Grant, primeiramente, preocupa-se em manter uma boa relação com a imprensa. É político, homem de negócios e, lá na frente, técnico de futebol. "Ele não tem cultura para esportes", lançou Balili.

As declarações pegaram de surpresa os jogadores. Nimni e Benayoun foram imediatamente à imprensa dizer que Balili está equivocado, que com certeza ele se desculpará. O que acredito que não vá acontecer.
O técnico Avraham Grant limitou-se a dizer que "obviamente ele (Balili) não está contente com o que aconteceu (sobre a desclassificação), mas ele está errado".

Bom, vamos por partes.
Israelenses vocês sabem como são. Adoram falar. E todos foram falar. Técnicos, jogadores, ex-jogadores... todos deram suas opiniões.

Um respeitado comentarista esportivo israelense, Dani Noiman, também lançou seu veneno no programa de esportes do canal 1, o Mabat Sport, ontem.
Segundo Noiman, é um absurdo o que vem acontecendo nos treinamentos e principalmente nas concentrações da seleção no exterior (principalmente nos jogos contra a Suíça e as Ilhas Faroe, os dois últimos). A preocupação em agradar os jornalistas por parte do treinador, que também é jornalista, fora evidente.
O comentarista fez questão de dizer que em toda a história da seleção israelense, nunca houve um jogador que se colocasse publicamente de forma tão agressiva contra o treinador e fizesse acusações tão sérias como fez Balili.
Noiman defendeu a contratação de um técnico extrangeiro para a seleção, apontando características claras como "que não conheça nem seja conhecido". Que não tenha rabo preso com a imprensa nem esteja dentro de nenhum esquema sujo.
Eu concordo. Aliás, já defendo um técnico extrangeiro há tempos. Abaixo, Dani Noiman.



Yosi Benayoun, melhor do time e líder do grupo, deu as declarações mais ingênuas. Disse que é uma pena "manchar de negro" a campanha de Israel nas eliminatórias. Sem comentários...
Tudo isso poderá colocar em cheque a permanência de Grant no comando técnico da seleção israelense. E tomara que realmente coloque.

Fico imaginando e comparando toda essa situação com o Brasil. Bate-bocas e brigas entre jogadores e técnicos são comuns. Basta lembrar de Romário, Edmundo, Leão, Zagallo, Luxemburgo, Marcelinho e por aí afora. A diferença é que, no Brasil, qualquer declaração vira pauta para conversas intermináveis no bar, na escola, no trabalho. Ao contrário de Israel.
Aqui, tenho medo de tudo ficar por isso mesmo. E, que nos próximos dias, Avraham Grant seja confirmado no cargo para a próxima temporada...
Abaixo, Grant e Balili em dias mais felizes...


Para ler mais sobre a confusão (em inglês), clique aqui!
Em hebraico (Ynet), clique aqui!
 
segunda-feira, outubro 10, 2005
  Por que devemos rezar em Yom Kippur?

E o sonho da Copa ficou mais distante.
Num jogo pífio, a seleção israelense venceu, no sábado à noite, uma equipe semi-profissional de pescadores por 2 a 1 e agora depende de um milagre cipriota para ir à Alemanha no ano que vem.

Logo aos 50 segundos de jogo, o craque do time, Yosi Benayoun, aproveitou uma bobeira do goleiro e fez 1 a 0. Um gol bizonho, mas que deu ânimo à torcida.
Afinal, uma vitória por 7 a 0 sobre a fraca seleção das Ilhas Faroe aumentaria as chances de classificação de Israel.
Abaixo, Benayoun (15) comemorando o gol relâmpago com Nimni (8), Katan (20) e Golan (12).



Mas o que se viu nos 89 minutos seguintes foi terrível.
A equipe depende única e exclusivamente de alguma jogada do Benayoun, algum momento iluminado ou coisa assim (como foi durante toda as eliminatórias). Nenhuma boa jogada, chuveirinhos na área da intermediária, passes errados de dar dó.
Vaias já eram ouvidas desde os 15 minutos de jogo. Fora uma cabeçada perigosa do lateral israelense Keisey, o primeiro tempo terminou sem maiores emoções.

Aos 46 minutos do segundo tempo, o meia Zandberg (que havia entrado) aproveitou um cruzamento e fez um belo gol. Um 2 a 0 que servia de consolo, até que o atacante Samuelsen fez um gol espírita e diminuiu para as Ilhas Faroe.
Decepção no Estádio Ramat Gan. Uma vitória suada contra Ilhas Faroe não estava nos planos...

Um parênteses: o que são as Ilhas Faroe?
Trata-se de um arquipélago autónomo dinamarquês, parte da Europa, situado entre o Oceano Atlântico e o Mar da Noruega. Um lugar que vive da pesca e que futebol é um passatempo para os dias que o termômetro marca alguns graus positivos.



O que é preciso para que Israel continue sonhando com uma vaga na Copa?

Na quarta-feira, noite de Yom Kippur (o Dia de Perdão), a seleção do Chipre visita a França, em Paris. Apenas uma vitória dos cipriotas coloca Israel na repescagem (em hebraico, hatzlavá. Aliás, a palavra hatzlavá nunca foi tão repetida nos programas de televisão...)
Tudo isso por causa de um gol suíço aos 34 minutos do segundo tempo, no jogo de sábado contra a França. Um gol de falta Ludovic Magnin. Um gol que engasgou o narrador israelense. Um gol que tirou a seleção israelense da Copa.
No final do jogo, a televisão mostrava, no canto da tela, os jogadores israelenses no vestiário torcendo para um golzinho francês. O atacante Cissé perdeu uma boa chance, e faltando 1 minuto para o fim, o goleiro suíço se desdobrou para defender um chute de Zidane. E ficou por isso mesmo...

No dia seguinte, o canal Sport5 transmitiu a entrevista coletiva do técnico da seleção, Avraham Grant.
Ele disse que não pensa mais na classificação, que Israel não tem mais chance, mas disse que uma coisa o time ganhou: respeito. Por ter terminado as eliminatórias de forma invicta, agora as seleções que enfrentarem Israel vão respeitá-la.

Agora pergunto: por que?
Porque saiu invicto da eliminatória?
Por que respeitarão?
Porque conseguiu arrancar empates suados com a Irlanda e a Suíça?
Porque tem o craque do time arrebentando num time de terceira categoria da Inglaterra?

Não sei de onde ele tirou esse "respeito". Acho que é uma forma de consolo.
Hoje em dia, teria mais receio se o Brasil jogasse contra a Costa do Marfim (que tem Drogba e se classificou para o Mundial) do que com Israel.
O dia 17 de Outubro marcará o destino do técnico Avraham Grant, numa reunião da Federação Israelense de Futebol. Prestigiado, tudo indica que ele deve continuar no cargo.
Desse jeito tá difícil...



Para matéria do Ynet (em hebraico), clique aqui!
Para matéria do Sport 5 (também em hebraico), clique aqui!
 
quinta-feira, outubro 06, 2005
  Quando o "Cabeça de Ouro" venceu o "Aranha Negra"

Dez dias depois do seu aniversário de 20 anos, o jovem Nahum Stelmach cravou seu nome na história do esporte israelense.
Um gol de cabeça aos 21 minutos do segundo tempo fez o lendário goleiro soviétio Lev Yashin ir buscar a bola no fundo das redes. Mais de 50 mil pessoas deliraram nas arquibancadas. Atônitos, os soviéticos não imaginavam que poderiam sofrer um gol de uma seleção de quinta categoria.
Mas sofreram. E o jogo estava empatado...



Para contar a história desse confronto, é preciso voltar no tempo e buscar algumas motivações políticas e históricas. Voltemos, portanto, ao ano de 1956.

Na URSS, o clima para os judeus n'ao melhorava muito depois dos anos terríveis da ditadura de Joseph Stálin e sua perseguição sistemática aos judeus. A visita de Golda Meir a Moscou, no fim de 1948, e o entusiasmo demonstrado pela comunidade judaica “desagradaram” Stalin. O resultado foi uma intensificação da campanha antissemita no país.
Pouco antes da celebração dos jogos de Melbourne (1956), a URSS havia invadido a Hungria, fazendo com que Espanha, Holanda, Suíça, Coréia do Sul, Egito e Iraque boicotassem as Olimpíadas.
A população judaica na ex-União Soviética em 1956 passava de 2 milhões e 200 mil pessoas, cerca de 1,1% do total.

Também em 1956 (em 26 de julho), o ditador egípcio Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez e proibiu a navegação de navios israelenses no local. A medida causou um grande impacto na Inglaterra, França e Israel que, então, iniciaram uma campanha militar contra o Egito. No desenrolar do conflito, os egípcios foram derrotados, mas os Estados Unidos e a União Soviética interferiram, obrigando os três países a retirarem-se dos territórios ocupados.
Ao final, o Canal de Suez voltava, definitivamente, para o Egito, mas com o direito de navegação estendido a qualquer país.

Foi nesse clima conturbado que, em 11 de julho, a ainda inexperiente seleção de futebol israelense viajou até Moscou, capital da URSS. Enfrentaria a melhor seleção da época, que ia do goleiro Yashin ao atacante Simonyan.
Oitenta mil pessoas entupiram o estádio Dynamo, em Moscou, para a primeira partida eliminatória para as Olimpíadas de 1956, na Austrália.
A bandeira israelense tremulando no estádio em Moscou foi a maior alegria de milhares de judeus soviéticos em tempos de ditadura e sofrimento. Em campo, os israelense tomaram um baile. Cinco gols soviéticos, nenhum israelense.

Vinte dias depois, o jogo da volta. Estádio Ramat-Gan, em Tel-Aviv, lotado. Os israelenses, de branco e comandados pelo técnico inglês Jack Gibons, pretendiam endurecer o jogo (apesar da classificação exigir um milagre).



Não houve milagres, mas o primeiro objetivo de Israel estava cumprido.
Primeiro tempo truncado, 0 a 0, num jogo feio e de muitas faltas. Logo aos 4 minutos do segundo tempo, Ilyin colocou os russos na frente. Parecia que a porteira estava aberta, até que...

Stelmach subiu mais alto que a zaga e marcou um dos gols mais famosos da história do futebol israelense. O país inteiro, que escutava pelo rádio a narração de Nachmia ben Avraham, vibrou com o gol como final de Copa do Mundo.
Porém, faltando 10 minutos para o fim da partida, Tatushin desempatou para os soviéticos, que se classificaram para as Olimpíadas e, numa campanha impecável, levaram a medalha de ouro ao vencer a Iuguslávia na final por 1 a 0 (gol de llyin, o mesmo que abrira o placar em Ramat-Gan).
A supremacia soviética no futebol acabaria em 1958, na Suécia, com um show de Garrincha. Mas isso é outra história...
Eis a escalação israelense no jogo histórico, em Tel-Aviv.

Hodorov - Matania, Shneor, Rabinovich, David Kremer - Boaz Kofman, Moshe Haldi,
Rehavia Rozenboim - Glazer, Nahum Stelmach, Mirmovich.

Em poucos anos, Stelmach tornou-se um dos maiores nomes do futebol israelense. Liderou o Hapoel Petach Tikva a cinco títulos nacionais consecutivos, entre 1959 e 1963 (na foto, o segundo sentado, da esquerda para a direita, no imbatível time da época).



Foi eleito por duas vezes o esportista do ano em Israel (1957 e 1959).
Com a camisa da seleção, foram 61 jogos e 22 gols, sendo 19 de cabeça (que lhe deu o apelido de "Cabeça de Ouro"). Em janeiro de 1968, jogou sua última partida pela seleção, numa derrota em casa para a Bélgica (2 a 0). Foi capitão da seleção por 10 anos, de 58 até a última partida.
Em 28 de Março de 1999, Nahum Stelmach estava na Espanha para acompanhar a partida entre a seleção da casa e a Áustria, em Valência. Aos 62 anos, teve uma parada cardíaca e faleceu.
Um ano antes, Stelmach foi eleito pelo jornal Yediot Acharonot como o terceiro melhor jogador da história do futebol israelense.

Para biografia do ex-jogador (em hebraico), clique aqui!
Para a carreira internacional de Stelmach, clique aqui!
 
segunda-feira, outubro 03, 2005
  Avançando...

Nada de novo no campeonato isralense.
Num jogo péssimo e uma falha bizonha do goleiro Elimelech, o Maccabi Haifa manteve os 100% de aproveitamento na liga. Venceu, em casa, o Hapoel Tel-Aviv por 1 a 0, gol marcado por Idan Tal num chute fraco que o Elimelech aceitou.
"Não dá pra explicar. A bola quicou e fugiu", disse o goleiro.

No fim do jogo, em entrevista aos repórteres, Tal não deixou de dar uma risadinha:
"É, a gente tem que saber receber presentes, né!?" E o presente colocou o time verde de Haifa mais líder do que nunca...
A manchete do Portal Liga: "E esse é apenas o começo!"
Abaixo, o goleiro Elimelech (de 34 anos), responsável pela derrota do Hapoel...



Mas o destaque de hoje não vai para a Ligat Hael, o campeonato israelense.O ponto alto da semana foi a classificação do modesto Maccabi Petach Tikva para a próxima fase da Copa da UEFA.
Há duas semanas, o time israelense perdera a partida de ida, em casa, para o Partizan Belgrado. 2 a 0. Parecia missão quase impossível reverter esse placar.

Com direito à defesa de pênalti do goleiro Ohad Cohen e três gols de Omer Golan, o nome do jogo, caiu a invencibilidade do Partizan jogando na Sérvia (na primeira partida, Omer havia reclamado da sorte do goleiro sérvio, que salvara três gols impressionantes). No fim do jogo, os israelenses fizeram uma festa no gramado para comemorar os 5 a 2.
Abaixo, um dos gols de Omer Golan (que, cá entre nós, foram bem feinhos. Mas vale).



Na temporada passada, logo na primeira rodada, o Maccabi Petach Tikva também tinha conseguido um resultado milagroso. Perdendo por 3 a 0 para AEK Larnaka, virou o jogo e levou a vaga. Agora, o time de Petach Tikva classifica-se para a fase de grupos da Copa da UEFA. Serão oito grupos, com cinco equipes em cada. O sorteio será realizado na terça-feira.

O atacante Golan, que completa 23 anos nessa terça e veste a camisa 15 (a mesma de Benayoun), já está na sua quarta temporada no Maccabi Petach Tikva.
Há um ano, entrou nos planos do técnico Avraham Grant e, desde então, frequenta as convocações da seleção israelense (marcando 1 gol em 13 partidas).É o atacante mais novo do grupo.
Seu ídolo? Roberto Baggio. Por isso é bom não deixá-lo cobrar pênaltis...

Para não passar em branco: nesse fim de semana, a torcida do Maccabi Petach Tikva lotou seu estádio para o confronto contra o Beitar Yerushalaim. Ainda de ressaca pela classificação, o time da casa foi derrotado por 2 a 1.
Omer Golan, na foto abaixo, não marcou (e perdeu um gol cara a cara com o goleiro...).
Como disse lá em cima, nada de novo no campeonato israelense....


 
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