Na URSS, o clima para os judeus n'ao melhorava muito depois dos
anos terríveis da ditadura de Joseph Stálin e sua perseguição sistemática aos judeus. A visita de Golda Meir a Moscou, no fim de 1948, e o entusiasmo demonstrado pela comunidade judaica “desagradaram” Stalin. O resultado foi uma intensificação da campanha antissemita no país.
Pouco antes da celebração dos jogos de Melbourne (1956), a URSS havia invadido a Hungria, fazendo com que Espanha, Holanda, Suíça, Coréia do Sul, Egito e Iraque boicotassem as Olimpíadas.
A população judaica na ex-União Soviética em 1956 passava de 2 milhões e 200 mil pessoas, cerca de 1,1% do total.
Também em 1956 (em 26 de julho), o ditador egípcio Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez e proibiu a navegação de navios israelenses no local. A medida causou um grande impacto na Inglaterra, França e Israel que, então, iniciaram uma campanha militar contra o Egito. No desenrolar do conflito, os egípcios foram derrotados, mas os Estados Unidos e a União Soviética interferiram, obrigando os três países a retirarem-se dos territórios ocupados.
Ao final, o Canal de Suez voltava, definitivamente, para o Egito, mas com o direito de navegação estendido a qualquer país.
Foi nesse clima conturbado que, em 11 de julho, a ainda inexperiente seleção de futebol israelense viajou até Moscou, capital da URSS. Enfrentaria a melhor seleção da época, que ia do goleiro Yashin ao atacante Simonyan.
Oitenta mil pessoas entupiram o estádio Dynamo, em Moscou, para a primeira partida eliminatória para as Olimpíadas de 1956, na Austrália.
A bandeira israelense tremulando no estádio em Moscou foi a maior alegria de milhares de judeus soviéticos em tempos de ditadura e sofrimento. Em campo, os israelense tomaram um baile. Cinco gols soviéticos, nenhum israelense.
Vinte dias depois, o jogo da volta. Estádio Ramat-Gan, em Tel-Aviv, lotado. Os israelenses, de branco e comandados pelo técnico inglês Jack Gibons, pretendiam endurecer o jogo (apesar da classificação exigir um milagre).
Não houve milagres, mas o primeiro objetivo de Israel estava cumprido.
Primeiro tempo truncado, 0 a 0, num jogo feio e de muitas faltas. Logo aos 4 minutos do segundo tempo, Ilyin colocou os russos na frente. Parecia que a porteira estava aberta, até que...
Stelmach subiu mais alto que a zaga e marcou um dos gols mais famosos da história do futebol israelense. O país inteiro, que escutava pelo rádio a narração de Nachmia ben Avraham, vibrou com o gol como final de Copa do Mundo.
Porém, faltando 10 minutos para o fim da partida, Tatushin desempatou para os soviéticos, que se classificaram para as Olimpíadas e, numa campanha impecável, levaram a medalha de ouro ao vencer a Iuguslávia na final por 1 a 0 (gol de llyin, o mesmo que abrira o placar em Ramat-Gan).
A supremacia soviética no futebol acabaria em 1958, na Suécia, com um show de Garrincha. Mas isso é outra história...
Eis a escalação israelense no jogo histórico, em Tel-Aviv.
Hodorov - Matania, Shneor, Rabinovich, David Kremer - Boaz Kofman, Moshe Haldi,
Rehavia Rozenboim - Glazer, Nahum Stelmach, Mirmovich.
Em poucos anos, Stelmach tornou-se um dos maiores nomes do futebol israelense. Liderou o Hapoel Petach Tikva a cinco títulos nacionais consecutivos, entre 1959 e 1963 (na foto, o segundo sentado, da esquerda para a direita, no imbatível time da época).
Foi eleito por duas vezes o esportista do ano em Israel (1957 e 1959).
Com a camisa da seleção, foram 61 jogos e 22 gols, sendo 19 de cabeça (que lhe deu o apelido de "Cabeça de Ouro"). Em janeiro de 1968, jogou sua última partida pela seleção, numa derrota em casa para a Bélgica (2 a 0). Foi capitão da seleção por 10 anos, de 58 até a última partida.
Em 28 de Março de 1999, Nahum Stelmach estava na Espanha para acompanhar a partida entre a seleção da casa e a Áustria, em Valência. Aos 62 anos, teve uma parada cardíaca e faleceu.
Um ano antes, Stelmach foi eleito pelo jornal Yediot Acharonot como o terceiro melhor jogador da história do futebol israelense.