terça-feira, outubro 18, 2005
  Outras batalhas

De particularidades, Israel está cheia.
Na política, na sociedade, nas relações internacionais. E também no esporte.
A rivalidade entre clubes de futebol também está impregnada de política e, consequentemente, de ignorância e intolerância.
Por incrível que pareça, existem "times de esquerda", "times de direita", "times árabes"...

O grande clássico do país, o que causava maior furor nas torcidas e mobilizava maior contingente policial, era disputado entre o Beitar Yerushalaim (repletos de torcedores de extrema-direita) e o Hapoel Tel-Aviv, de camiseta vermelha e bandeiras do Che Guevara na arquibancada.
Disse "causava" porque, hoje em dia, um outro confronto tem mexido ainda mais com o futebol israelense. Ou pelo menos com os nervos dos torcedores. Onde, literalmente, "o pau quebra".
Como na foto abaixo, de um torcedor do Beitar.



Em Maio de 2004, o Hapoel Bnei Sakhnin ficou conhecido em todo o mundo como a primeira equipe de uma cidade árabe a vencer a Copa de Israel (uma vitória de 4 a 1 sobre o Hapoel Haifa). No ano seguinte, participou da Copa da UEFA representando o país. Foi eliminado na segunda fase, pelo Newcastle da Inglaterra.
A notícia do título foi publicada na Jordânia, no Egito e também pela Al-Jazeera. O primeiro-ministro Ariel Sharon chegou a prometer 7 milhões de shkalim (cerca de 1,5 milhões de dólares) para a construção de um novo estádio em Sakhin.

Não demorou para que todo confronto entre o Sakhnin e os loucos torcedores do Beitar Yerushalaim terminasse em pancadaria.
E a falta de vergonha também adentrou os jornais.
O Yediot Acharonot chegou a publicar, logo depois do título do Sakhnin, um artigo de um torcedor dizendo que o futebol israelense estava, a partir daquele momento, morto. Após uma derrota do Beitar para o Sakhnin, no ano passado, um dos chefes da torcida do time direitista reclamava por sua equipe ter perdido para a Al-Qaeda!

O craque do Sakhnin (que foi sondado, no início da temporada, pelo Maccabi Haifa) é o meia Abbas Suan, um árabe nascido na Galiléia que também frequenta a seleção israelense.
Poucos dias depois de uma partida contra a Irlanda, que Israel empatou aos 45 do segundo tempo (com gol de Suan), o jogador foi vaiado pela torcida do Beitar num jogo válido pelo campeonato israelense. Os extremistas abriram um cartaz no qual se lia: "Suan, você não nos representa".
Já a torcida do Bnei Sakhnin revidou, gritando "lixo, lixo" enquanto os alto-falantes tocavam o hino nacional "Hatikva".
Abaixo, o capitão Suan levanta a taça, em 2004.



No dia 8 de janeiro de 2005, o Bnei-Sakhnin visitou o time de Jerusalém e enfiu um sonoro 2 a 0.
Ao lado do estádio Teddy Kolek, funciona o maior shopping center da cidade, o Malcha ("Málrra"). Após a partida, torcedores dos dois times se enfrentaram no estacionamento do Malcha. Alguns chegaram a entrar no shopping, assustando centenas de pessoas comuns que passeavam na noite de sábado.
Vários torcedores foram presos, outros feridos.

Apesar do comportamento violento de parte da torcida do Sakhnin, a administração do clube é um exemplo para todo o "planeta bola".
O presidente é muçulmano, o técnico é judeu, os jogadores são árabes, judeus e cristãos. Estava na segunda divisão até três anos atrás e ninguém fora do vilarejo árabe o conhecia.
Em Sakhnin, 30% da população está desempregada e fica perambulando, sem muito que fazer além de passear no centro e ver os treinamentos da equipe local, num gramado improvisado.
Eles respiram futebol.
Abaixo, a torcida do Sakhnin.



No último final de semana, o clássico se repetiu em Jerusalém.
O time árabe é o último colocado do campeonato, sem nenhum ponto. O de Jerusalém, está em crise e sem treinador. O antigo, o ex-jogador Eli Ohana, abandonou o clube há um mês, depois que um bilionário russo assumiu o controle do Beitar.

Provocações dos dois lados, policiamento reforçado.
O Bnei Sakhnin chegou a estar na frente do placar por duas vezes. Na primeira delas, por causa de uma bola que bizonhamente encobriu o goleiro Korenfein, do Beitar.
Aos 48 do segundo tempo, o jogo estava empatado. Um 2 a 2 até certo ponto merecido, porque nenhum equipe havia feito nada demais. Até que um reserva do Beitar aproveitou uma sobra e, de voleio, marcou o gol da vitória. Amit Ben Shoshan saiu como herói de mais um "batalha" esportiva.
Ou que, pelo menos, deveria ser somente esportiva.


 
Comments:
parabéns pelo blog, acho legal alguém se "importar" com o futebol israelense, eu como judeu, considero isto demais.
 
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