A princípio, o grupo 3 das eliminatórias asiáticas seria disputado inteiramente em Israel. Contava com a seleção da casa, Sri Lanka, Burma, Índia, Irã e Coréia do Norte (os outros dois grupos foram sediados no Japão e na Tailândia). Porém, os quatro últimos recusaram-se a jogar em território israelense por motivos políticos; e o caminho ficou livre para os anfitriões.
É preciso lembrar que, cerca de seis meses antes, a Guerra dos Seis Dias eclodira no Oriente Médio. E Israel ganhara mais alguns nomes na lista de "inimigos"...
No fim das contas, o que está registrado na história é a primeira participação israelense num torneio olímpico de futebol. Nada de boicotes ou qualquer tipo de intolerância. Bastava vencer a seleção de Sri Lanka nas duas partidas que seriam realizadas no estádio Bloomfield, em Yaffo.
Em 17 de Março de 1968, com três gols de Mordechai Spiegler e dois de George Borba, Israel goleou os coitados cingaleses por 7 a 0. Cinco dias depois, as duas equipes voltaram a se enfrentar e Israel mais uma vez venceu: 5 a 0.
E Israel viajou ao México.
Logo de cara, mais um problema "político" mudou o destino da equipe israelense.
A seleção de Marrocos, classificada, abriu mão de disputar o torneio (exatamente por estar no grupo de Israel) e deu lugar à Gana.
E a epopéia das Olimpíadas estava apenas começando.
Numa estréia polêmica e movimentada, Israel bateu os ganeses por 5 a 3, em Léon.
Mas o dia 13 de Outubro de 1968 ficaria marcado, na Vila Olímpica, por uma briga generalizada entre os jogadores das duas equipes. Briga que começou dentro de campo.
Porém, no gramado,Yehoshua Feigenbaum marcou três vezes e colocou Israel na ponta do grupo C.
A partida entre Guatemala e Checoslováquia, vencida pelos latinos por 1 a 0, também terminou em pancadaria generalizada.
Na segunda partida, dois dias depois (e com os ânimos bem mais acalmados), Israel venceu a seleção de El Salvador por 3 a 1. Classificação garantida.
Faltava o último jogo do grupo, justamente contra a grande favorita. A Hungria do artilheiro Dunai. E foi o próprio Antal Dunai que marcou os dois gols da vitória da seleção olímpica da Hungria sobre Israel, em 17 de Outubro de 1968, no estádio Jalisco de Guadalajara (que os brasileiros conhecem bem).
Eis que chega o grande dia: 20 de Outubro de 1968. Estádio Municipal de León, no México.
Quartas-de-final, Israel versus Bulgária.
Logo aos 4 minutos, Donev abriu o marcador para os búlgaros. Seria mais uma goleada para a "coleção" da história israelense no futebol; mas não. Israel endureceu o jogo. Partiu pra cima.
Aos 44 minutos do segundo tempo, Yehoshua Feigenbaum empatou. Festa da delegação israelense. E o jogo foi para a prorrogação.
Depois de 30 minutos tensos,
1 a 1. E nada de pênaltis.
De acordo com o regulamento da competição, a vaga seria decidia na moedinha: cara ou coroa. O respeitado árbitro francês Michel Kitabdjian seria o responsável.
"Cara" para a Bulgária, "coroa" para Israel. Com um gesto rápido, o árbitro mostrou a moeda.
Cara. Decepção. Choro. O sonho acabara.
A equipe israelense do técnico Imanuel Shefer na "batalha" contra os búlgaros.
Haim Levin - Shraga Bar, Zvi Rozen, Itzhak Drucker, Yeshaayahu Schwager (George Borba),
Menahem Bello - Giora Spiegel, Shmuel Rosenthal, Mordechai Spiegler -
Yehoshua Feigenbaum, Reuven Young (Itzik Englander)
Entre 1966 e 1977, o atacante Yehoshua Feigenbaum (artilheiro israelense nas Olimpíadas do México, com 4 gols) disputou 50 partidas pela seleção israelense. Marcou 23 gols, sendo titular na Copa de 1970.
Com 57 anos, Feigenbaum (que é "a cara" do falecido ator Rogério Cardoso, o Roland Lero da "Escolinha") foi demitido do comando técnico do Hapoel Tel-Aviv no fim da temporada passada.
Hoje é o treinador da minha equipe: o Hapoel Yerushalaim, capengando na segunda divisão.
Uma curiosidade: na disputa do terceiro lugar, quando a seleção da casa perdia para os japoneses por 2 a 0, torcedores mexicanos começaram a jogar objetos no gramado e interromperam o jogo.
Fizeram o mesmo na final, em que os húngaros golearam a Bulgária por 4 a 1.
Abaixo, a abertura do torneio de futebol. Ninguém (ou quase ninguém) esperava tanta confusão.
Foram os jogos olimpícos mais tumultuados da história do futebol.